Querer é poder? Constantemente me faço essa pergunta em minhas reflexões. Mas nunca consegui obter uma resposta definitiva. E isso é bom! Afinal, ter certezas muitas vezes nos faz errar o caminho e entrarmos numa rua sem saída.
Quando quero e a vida me proporciona oportunidades para alcançar o meu querer, querer é poder! Quando quero, mas a vida me vira as costas, querer não será poder, porque não dependerá só de mim.
Dessa forma, dizer a um jovem que ele precisa estudar, formar-se e ser independente na vida é muito fácil, especialmente se esse jovem pertence a uma família de classe média alta, bem estruturada, com várias possibilidades de um futuro promissor. Dizer a mesma frase para um jovem que mora numa favela, que precisa trabalhar o dia inteiro para se sustentar e à sua família, parece bem mais difícil. O querer tem que ser gigante, porque o poder é mínimo.
O cuidado que precisamos ter com essas frases de efeito e que os palestrantes adoram, é ler o contexto em que elas são ditas. Posso alcançar tudo o que desejo? Não. Porque muitas coisas não dependem de mim. Os cenários mudam, e essa mudança pode apresentar um cenário novo para cada um de nós. Nesse sentido, posso mudar o meu querer, já que o que eu queria não se tornou viável.
Pode parecer confuso, mas não é. Quem deve definir o que você quer é você mesmo, ninguém mais! Alguém vai dizer que a sociedade nos coage a agir de certa forma. Concordo. Mas a nossa paz de espírito ou a nossa felicidade não pode estar nos outros, e sim dentro de nós.
As pessoas querem trocar de emprego ou de parceiros, por que se sentem infelizes? Ou por que leram em algum lugar, assistiram na televisão ou ouviram um palestrante dizer que querer é poder?
É lógico que você pode separar do seu parceiro ou mudar de trabalho quando bem entender. Isso te fará feliz? Talvez. Mas você já parou para refletir que não há empregos perfeitos, muito menos parceiros e parceiras? Todos temos defeitos, cometemos falhas, erramos.
Posso mudar de emprego cem vezes ou trocar de marido ou esposa outras cinquenta, o que vai acontecer? Nada. O que você quer ou quis fazer é mostrar aos outros que você pôde ou pode, mas vai descobrir com o tempo que apesar de algumas mudanças serem necessárias, quem precisa mudar é você – seu modo de pensar e agir.
Os nossos relacionamentos e os nossos trabalhos não melhoram porque mudamos com frequência de um para o outro, mas porque amadurecemos durante a vida. O “eu” que achava uma afronta o parceiro deixar uma toalha molhada na cama, ou um colega de trabalho não devolver a caneta que pediu emprestada, hoje consegue perceber que o outro tem defeitos, mas também virtudes. Não foi o outro que mudou, foi você quem mudou a forma de ver as coisas, e também a vida.