Uma certeza que tenho a cada período eleitoral é a de que o meu voto é mais importante do que eu. Além dela, a de que as ruas estarão mais sujas e barulhentas.
Ninguém está interessado naquilo que você pensa, em ideias, projetos ou experiências que poderiam ajudar a gestão do município. Ninguém está pensando em você como cidadão, com direitos e deveres, e desejoso de ver a sua cidade melhorar, promovendo tanto desenvolvimento econômico quanto social.
A partir dessa visão, entendo que o que vale mesmo é um simples apertar de teclas. Se você apertou e confirmou, pronto! A sua voz volta a ser calada durante os próximos quatro anos. É como se você não existisse, ou sendo um pouco mais otimista, você será mais um número.
Quando você lê obras como Utopia, de Thomas More, A Cidade do Sol, de Tommaso Campanela, A Política, de Aristóteles, e outros tantos livros que de alguma forma apontam para um modelo perfeito de política, onde o bem-estar de todos é o objetivo a ser alcançado, me vejo desolado por saber que essas histórias pertencem somente aos livros, ao mundo ideal.
Mas mesmo assim sonho com o dia no qual as eleições ocorrerão sem sujeira e barulho. Nada de santinhos enfiados em caixas de correios e espalhados pelas ruas. Nada de música ou som elevado nos carros, gritando os nomes dos candidatos. Nada de promessas e palavras ditas ao vento, para tentar convencer o eleitorado a votar em Fulano ou Beltrano.
Sonho ainda com o dia em que vereadores receberão apenas um salário simbólico para cumprir seus papéis de legislar e fiscalizar o Executivo. E mais, que secretários municipais, diretores, coordenadores e todos os ocupantes de cargos superiores possam ser escolhidos por critérios técnicos e não políticos. Que se possa comprovar, para todos que ocupem cargos públicos como contratados, a experiência e o conhecimento em Administração Pública, através de exames ou análise curricular.
Que a cidade pudesse ser organizada por regiões ou bairros, onde cada um deles teria o seu representante, informando com frequência as demandas mais importantes dos seus moradores. Que a democracia representativa fosse realmente possível, através de pessoas eleitas visando esse fim – representar o povo.
Gostaria que todo gasto público fosse efetivamente demonstrado de forma transparente, e que as obras mais relevantes fossem escolhidas ou definidas por aqueles que realmente vivem o dia a dia do município, sendo essas escolhas realizadas via plebiscito, audiências públicas ou qualquer outro meio onde a maioria pudesse optar.
Quem sabe um dia, escolhamos nossos candidatos de forma silenciosa, tendo a certeza de que qualquer das opções disponíveis esteja em conformidade com a ética, honestidade, competência e idoneidade, preceitos previamente definidos por toda a sociedade.
Enquanto isso não acontece ou nem mesmo tenhamos um filete de esperança que algo nesse sentido ocorra, o que então esperar das eleições? Que elas passem o mais rápido possível, e que carreguem com elas o barulho e a sujeira que tanto nos incomoda.