Por impulso responderíamos “o ser”. É melhor ser uma boa pessoa sem dinheiro do que ter dinheiro e ser uma pessoa ruim. A lógica em nosso cérebro parece óbvia. Costumamos associar o ser à alma, às qualidades, enquanto o ter, a algo corporal, material e aos vícios.
Mas como estamos aqui para refletir, uma nova pergunta pode nos deixar confusos. Você prefere ser uma boa pessoa ou ter uma vida boa? Se responder ‘as duas coisas’, então o ter é tão importante quanto o ser. Se responder ‘o ser uma boa pessoa’, estará sendo coerente quando afirmar que o ser é mais importante que o ter. Mas se responder ‘ter uma vida boa’, indica que o ter parece predominante em sua vida.
Podemos também mudar a forma de enxergar o ser e o ter. Eu quero ter boa saúde, então o ‘ter’ é relevante. Eu quero ser saudável, onde o ‘ser’ é o mais importante. O que quero dizer é que não importa o verbo, se vamos usar o ser ou o ter tanto faz. Ser bonita ou ter beleza é a mesma coisa. Ser rico ou ter muito dinheiro também. Depende de quem olha, de quem fala, vive ou escolhe.
O problema do ‘ter’ é quando se trata de algo material. Desejar ter um carro, uma casa, um celular, uma bicicleta ou qualquer outro bem não é ruim, mas quando isso ou acumular objetos se tornam os principais objetivos de sua vida, pode sim lhe trazer dor de cabeça. Afinal de contas, quando colocamos a nossa felicidade em coisas externas, acabamos sendo infelizes quando elas não chegam ou quando se vão.
Outro problema do ‘ter’, se é que podemos chamar assim, é em relação à posse. Desejamos ter, para sermos os donos. Vocês já ouviram alguém se referir ao computador da empresa como “meu computador”? É a minha mesa, a minha sala, a minha impressora, como se tudo ali na empresa fosse de algum trabalhador. Mas não é.
Nos relacionamentos o ‘ter’ também aparece. “A minha esposa”, “o meu namorado”, “o meu noivo”. Os pronomes possessivos meu e minha são usados com frequência, para mostrar que tenho. No entanto, nada é nosso. A minha esposa não é minha, porque eu não sou o dono dela. O seu namorado não é seu, porque ele não é sua propriedade. Talvez por isso é que as pessoas sofrem tanto e cometem tantas sandices quando os relacionamentos findam. Ele não era seu. Ela não era sua. Simples assim!
Por isso, depois de entendermos um pouco sobre o ‘ser’ e o ‘ter’, vamos falar do ‘estar’. Se não sou nem tenho, quero pelo menos estar. Não sou o dono da minha esposa, nem ela é minha propriedade. Ela ‘está’ comigo. Se está, pode escolher entre ir ou ficar. Isso lhe dá a liberdade de escolha. Eu não sou o diretor daquela empresa, eu estou ocupando o cargo de diretor. Eu não tenho uma sala ou uma mesa naquela instituição, e sim ocupando temporariamente aquele espaço. Eu estou ali.
Gosto do “estar” porque é um verbo que indica impermanência ou transitoriedade. Não sou feliz e não tenho a posse da felicidade, mas estou feliz neste momento. Amanhã talvez não estarei ou quem sabe nunca mais. Por isso, desejo viver o momento presente intensamente, pois sei que hoje ‘estou’, mas não ‘sou’ e nem ‘tenho’.