O medo nos acompanha desde os primórdios da humanidade. A frase pode até ser clichê, mas ainda assim é verdadeira. Afinal de contas, sentir medo é algo comum à nossa espécie, mesmo que tenhamos evoluído ao ponto de construirmos barreiras que nos protegem dos perigos do ambiente no qual vivemos.
Trocando em miúdos, vamos criando formas de reduzir a possibilidade do sofrimento, porque é isso que pensamos quando sentimos medo – não sofrer. Não saímos de casa, para não sermos assaltados. Não viajamos de carro, porque podemos nos acidentar. Não dizemos ‘eu te amo’, porque podemos nos arrepender. Não assumimos cargos, porque não queremos ser julgados. Não continuamos os estudos, porque talvez não sejamos aprovados. E assim, o medo nos dá a mão e caminha conosco durante toda a vida, lado a lado…
Não somos felizes, primeiro porque não conseguimos definir muito bem o que é felicidade. Mas mesmos quando conseguimos não o somos, porque temos medo da felicidade. Muitos acreditam não serem merecedores daquele momento feliz que estão vivendo. E logo pensam: “É uma fase. Logo vai passar”. Como se, necessariamente, o fato de eu estar feliz implicasse que logo em seguida algo ruim fosse acontecer, para me mostrar que estar infeliz é o normal. E aí, tempos depois, surge aquela frase: “Eu era feliz e não sabia”.
De certo modo, olhamos a felicidade com o olhar do desejo. Se tenho saúde, uma moradia, um veículo e um emprego, por que não posso ser feliz com o que tenho? Por que não posso olhar para dentro e pensar que isso me basta? Se tenho um casamento feliz, amigos fiéis, uma família que me abraça e me quer bem, por que não posso ser feliz assim? O que mais eu preciso para ser feliz?
Talvez seja aí que resida o problema – o olhar para dentro. Costumamos olhar para fora, para o outro, para o futuro. Esquecemos de olhar pra trás, para ver a nossa evolução. Esquecemos de olhar para dentro, e enxergarmos o que nos é essencial na vida. Temos o olhar míope para o outro, como se a vida dele fosse mais interessante e, dessa forma, mais feliz.
Temos medo de ser felizes, porque a felicidade nos traz consequências, assim como qualquer escolha. Ao escolher ser feliz, pessoas próximas me invejarão, e eu temo a inveja; pessoas cobiçarão meus bens e minha felicidade, e eu não estou preparado para isso; pessoas no meu trabalho me farão críticas quanto ao cargo que ocupo; pessoas do meu convívio duvidarão da minha honestidade nos meus relacionamentos. Escolher é fazer uma opção e carregar consigo todas as consequências do ato.
Quando optamos pela inação, pelo comodismo, abdicamos de ser felizes pelo medo de agir, pelo medo do que os outros vão pensar ou falar de nós. Uma coisa é certa: não vamos deixar de sentir medo. Mas outra é muito mais importante: saber lidar com o medo. E para isso, duas coisas são importantes: a coragem e o hábito.