No dicionário, o substantivo feminino ‘culpa’ significa responsabilidade por dano, mal ou desastre causado a outrem. Aparece também como falta, delito ou crime. Mas o que realmente queremos saber é de quem é a culpa.
Se falamos de culpa, falamos também de responsabilidade. E pelo o quê somos responsáveis? Se decidimos ter um filho, plantar uma árvore ou criar um cachorro, seremos automaticamente responsáveis por eles, concordam? Sendo assim, a responsabilidade é nossa pelos cuidados que devemos ter com as plantas, animais e principalmente com os filhos. Portanto, terceirizar é passar a responsabilidade para os outros. E é o que acontece com certa frequência no nosso dia a dia.
Há pais (homens) que terceirizam os cuidados dos filhos, quando deixam eles sob a responsabilidade da mãe. Há pais (casal) que terceirizam os filhos, deixando os avós os educarem. E por aí vai…Mas e a culpa? A culpa é de quem foge de suas responsabilidades e em vez de assimilar as consequências da vida, procura um culpado para os seus problemas e angústias.
Quando a pessoa diz que não estudou porque teve filhos muito cedo, a culpa recai nos filhos. Mas quem participou do ato sexual no qual foram gerados os filhos? Não foram os filhos, com certeza. Quando a pessoa diz que os seus relacionamentos nunca dão certo, deixa transparecer a ideia de que é azarada, porque só pessoas ruins lhe aparecem na vida. Será?
O casamento acabou. A demissão aconteceu. O namoro terminou. A avaliação reprovou. O concurso não aprovou. A formatura nunca chegou. A culpa é de quem? É sempre do outro. E em todas as situações, ou somos vítimas ou somos juízes. Julgamos a todo instante que por culpa de alguém ou até mesmo do destino, as coisas não aconteceram como deveriam. Praticamos o coitadismo e nos colocamos na posição de vítimas, dizendo a todo momento que as oportunidades não apareceram.
O substantivo vira verbo quando a culpa se torna uma ação. A ação de culpar os outros pelos nossos infortúnios. E vivemos infelizes, porque não vivemos as nossas vidas e sim as dos outros. Porque se temos o livre-arbítrio para tomar decisões, por que não as tomamos? As consequências acontecerão de qualquer modo, sendo boas ou ruins. A frase atribuída ao poeta chileno Pablo Neruda diz muito sobre decisões: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Mas quando as consequências são boas, o mérito é seu, mas quando são más, a culpa é do outro.
Assumir o protagonismo nas nossas vidas é assumir as culpas, os erros e também os acertos, em tudo o que fizemos e fazemos. Não tem graça dizer “eu venci” quando se sabe que ninguém vence sozinho. Da mesma forma, não é justo dizer “perdi por culpa de Fulano”, porque se você abdicou de fazer escolhas, deixando a responsabilidade para Fulano, a culpa é sua em abrir mão do seu poder de decisão.
Sinceramente, não gosto da palavra culpa. Ela me remete sempre à palavra covardia. E o covarde é aquele não tenta ou se tenta e não consegue, culpa o outro. Que a nossa coragem não seja só a ausência de medo, mas a consciência de que a vida é nossa, e, portanto, somos nós os responsáveis por ela.