Perguntas como essa são bastante comuns nos nossos dias. Mas por que temos que definir o lado? Simplesmente porque as pessoas querem separar. Ou você torce para o time A ou você torce para o time B. E se você não quiser escolher? E se buscarmos uma terceira opção? E se quisermos ficar em cima do muro?
Parece muito estranho ter que definir, e é. As pessoas buscam respostas definitivas, sempre dicotômicas, é sim ou não, feio ou belo, gordo ou magro, homossexual ou heterossexual, preto ou branco. Por que isso? Porque quando você se define, o outro sabe com quem está lidando e pode decidir, se te segue ou se afasta de ti.
Se me defino de esquerda, os de direita me odiarão, e deixarão pra trás as minhas qualidades, esquecerão minhas boas ações, colocando-me no rol dos excluídos. Minha opinião não mais valerá, ainda que com embasamentos. Da mesma forma, se me proclamo de direita, os de esquerda se afastarão, como se eu tivesse uma doença contagiosa, e minhas virtudes serão trancafiadas num baú velho, esquecidas num quarto escuro.
Como disse antes, dividir é o objetivo. Quando divido, coloco em lados opostos, desuno, separo. E o que ganhamos com isso? Nada. Talvez a liberdade em fazer uma escolha, ainda que ela seja inútil, sem propósito. Escolher um lado parece ser mais relevante que tentar entender os dois. E quando fazemos a escolha, nada mais enxergamos, só aquilo que definimos como certo. A isso damos o nome de fanatismo.
Fanáticos são aqueles que fecham os olhos para os erros e os problemas daqueles de quem gostam e, especialmente, atacam aqueles que pensam de modo diferente deles. Certa vez escutei a seguinte frase: “Ou Fulano é meu amigo ou é meu inimigo”. Mas não existe o meio termo? Uma régua só tem extremos? Onde estão os meios? Cadê o equilíbrio?
Difícil se manter no meio, principalmente quando as extremidades da corda são agitadas de tão modo, que o medo de cair te faz pender para um lado. Mas sabemos que o medo é mais da imaginação que da realidade, e ele só poderá ser vencido com o hábito. Neste caso, habituo-me a ler, não só por fruição, mas por obrigação de conhecer os dois lados (se é que não existem mais). Conheço tipos socialistas que nunca leram Karl Marx, assim como liberais que desconhecem Adam Smith. Como então propor um diálogo, se não sei o que estamos discutindo?
No final, descubro que não consigo resolver as dicotomias do mundo, porque elas nunca serão resolvidas. E isso é a parte boa! Porque se fôssemos todos iguais, graça nenhuma haveria em poder conhecer o outro e tentar entendê-lo. Por isso, quando alguém me pergunta qual o lado vou escolher, eu respondo: “O lado de dentro”.