Inicio tentando responder a pergunta do título com a frase de Voltaire: “Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo”.
Necessitamos, uma vez que somos humanos, seguir a alguém. Desse modo, precisamos de alguma orientação, que nos mostrem um caminho, que nos auxiliem na escolha, nas decisões, ou qual rumo tomar.
Precisamos de líderes para nos espelharmos. Seguimos seus pensamentos, conselhos e enaltecemos suas atitudes. Eles se tornam então nossos ídolos, e como temos dificuldades em fazer escolhas, solicitamos a eles que nos ajudem, ou que pelo menos nos sejam inspiração para seguir vivendo.
O problema maior é exatamente esse – quando o líder se torna ídolo. Ele passa a exercer sobre os outros um fascínio ilimitado, e tudo o que diz, pensa ou faz torna-se um dogma. O ídolo passa a representá-los, tornando-os parte do seu rebanho, seja por meio da doutrinação, pela intolerância da opinião contrária ou impossibilidade de diálogo. A esse movimento damos o nome de fanatismo. Ou seria fascismo?
A intolerância dos fanáticos os tornam medíocres, sem pensamento próprio, sem ideal, porque só concebem pensar ou agir mediante a ordem ou pensamento do líder. Segundo o psiquiatra e filósofo argentino, José Ingenieros, em seu livro O homem medíocre, esses “pensam com a cabeça dos outros, compartilham a hipocrisia moral alheia e ajustam seu caráter à domesticidade convencional”.
Penso que necessitamos de líderes sim, e não de Salvadores da Pátria; precisamos nos inspirar pelo bom exemplo do líder, mas não sermos míopes a tal ponto de não enxergarmos seus vícios e defeitos. Nas diversas áreas da vida, de modo especial na política, elegemos presidentes, governadores, prefeitos e vereadores, porque nos inspiram confiança, não pelos modos e conduta, mas principalmente pelos discursos. A maioria não é líder, mas preferimos acreditar que sim.
Por isso, enquanto formos fanáticos e medíocres, continuaremos precisando de líderes, sendo eles divinos ou humanos. E quando tomarmos a consciência de nosso poder e de nossa cidadania, e descobrirmos que as mudanças podem e devem partir de baixo para cima, talvez passemos a acreditar menos neles e mais em nós.