Em qual dos mundos você vive atualmente?
Essas perguntas são difíceis de responder. Por isso é importante definirmos o que são os dois mundos, a partir de dois substantivos femininos: realidade e imaginação.
No mundo ideal tudo é perfeito. Não sentimos dores. Não sofremos. Não temos medos. Tudo é paz e felicidade! As pessoas são boas e todos aqueles com quem convivemos nos fazem bem, ou pelo menos nos querem bem.
Muitos de nós vivemos nesse mundo ideal, como se a morte não existisse, como se o bem sempre prevalecesse ao mal, como se a finitude fosse algo distante. Os sofrimentos só acontecem aos outros, nunca chegarão a nós. No mundo ideal todos têm propósitos na vida, todos são solidários, todos se amam. É o conhecido faz de conta. O mundo finge que nos ensina e nós fingimos que aprendemos.
No entanto, sabemos que não é bem assim, quando nos descobrimos no mundo real. Quando perdemos um ente querido, quando somos alvos de uma traição, quando somos demitidos, quando somos reprovados. Esse é o mundo real! E a realidade, por incrível que pareça, ainda nos choca, porque também fingimos que não a conhecemos.
Como combustível para continuarmos vivendo no mundo ideal, surgem as religiões, que de alguma forma tentam nos dissuadir do sofrimento ou nos acalentam dizendo que haverá outra chance numa próxima vida. Compreendemos as palavras carinhosas, mas precisamos sofrer, pois sem o sofrimento não vamos crescer, e pior, continuaremos frágeis, vacilantes a cada obstáculo que surja em nossas vidas. É o mundo ideal nos puxando para dentro ele…
Dessa forma, fugimos sempre à nossa realidade, correndo das dores, buscando nos apoiar em argumentos que quase sempre são rúpteis. Escolhemos viver no mundo ideal, porque o mundo real nos traz muitos sofrimentos. Nos escondemos a todo instante, como se o inimigo estivesse de tocaia. Não viajo, não saio de casa, não tenho amigos, não me envolvo, não me relaciono, não me entrego, porque a qualquer momento a dor do mundo real pode me atingir.
O que fazer então? Temos uma saída?
Talvez possamos seguir o mesmo conselho que Horácio Flaco deu a amiga Leucone no século I a.C: “Carpe diem, quam minimum credula postero” (Aproveite o dia e confie o mínimo possível no amanhã).