O outro é alguém que está fora de mim. Ele pode ser real ou imaginário. Real quando posso tocá-lo ou quando ele faz parte da minha realidade. Imaginário quando penso que ele existe, mas não o conheço, e talvez nem queira conhecê-lo.
A relação que temos com o outro diz muito sobre nós. Penso que existem dois aspectos relevantes no que diz respeito ao outro. Vamos a eles.
O outro enquanto ser inexistente. Esse outro não existe, pelo menos pra mim. Aliás, ele pode até existir, mas nunca o vejo, talvez porque eu olhe só pra dentro e nunca pra fora. Esse outro na realidade é uma sombra da qual tento me esconder, mas que me persegue. Esse outro não me interessa, pois não faz parte da minha vida. É um transeunte qualquer, que desconheço, que ignoro, que só existe porque é um número.
O segundo outro é o que eu me importo. É aquele a quem eu devo e dou satisfações. Me visto por causa dele, mudo de opinião, faço ou deixo de fazer algo por interesse dele. Esse outro toma meu corpo e minha mente e guia meus passos por caminhos que muitas vezes não desejo, mas que assim mesmo sigo, porque não sou mais eu quem toma as decisões, não sou eu quem faz as escolhas, mas ele, o outro.
Onde está a diferença? No olhar de cada um. Ignoro, descarto, desprezo o outro quando ele não me é importante. Adulo, sigo, imito o outro quando tenho o sentimento que não sou livre e preciso desesperadamente que me desenhem um caminho, pois não consigo criar os meus. Não sei andar sozinho, e o outro é minha muleta.
Precisamos escolher um ao outro. Necessitamos romper os grilhões com o último e abraçar o primeiro.